A Gestão de Preços e os Sistemas de Custos: Uma Perspectiva Avançada



A Gestão de Preços e os Sistemas de Custos: Uma Perspectiva Avançada

Gestão de Preços Contemporânea além dos Modelos Clássicos

1. Panorama Estratégico da Gestão de Preços

A gestão de preços representa um dos elementos essenciais para o posicionamento competitivo e a geração de valor sustentável dentro das organizações. Michael Porter destaca que a estratégia de preços deve estar alinhada à dinâmica da cadeia de valor e à estrutura de custos para permitir vantagem competitiva duradoura.

2. Integração entre Estratégia de Preços e Sistemas de Custos

A relação íntima entre precificação e sistemas de custos vem sendo amplamente explorada por estudiosos como Robert S. Kaplan e Robin Cooper, notadamente nos estudos da Harvard Business School. Quando decisões baseadas em custos são imprecisas, há riscos de erosão das margens e de perda de vantagem competitiva, sobretudo em ambientes com alta complexidade operacional.

3. Evolução dos Sistemas de Custos: Limites, Potenciais e Tendências

3.1. Limitações do Modelo Clássico

Abordagens convencionais, centradas em custos diretos de mão de obra e overhead, não refletem a complexidade dos custos modernos. Charles Horngren salientava que em muitos segmentos, custos com materiais, logística e unidades de suporte compõem a maior parte das despesas relevantes.

3.2. Novas Fronteiras: ABC/ABM, Target Costing e Kaizen

  • Activity-Based Costing (ABC) e Activity-Based Management (ABM): Estes métodos proporcionam detalhamento granular, conectando recursos, processos e produtos com precisão, fato enfatizado nos estudos de Kaplan e Cooper.

  • Target Costing: Adotado por mercados dinâmicos, especialmente no Japão e seguido por empresas globais, objetiva definir custos-alvo em estágios iniciais do ciclo de vida do produto, assegurando viabilidade financeira e percepção de valor.

  • Kaizen Costing: Fundamenta-se em melhorias contínuas pós-lançamento, estimulando eficiência operacional progressiva e redução sistemática de custos.

4. Desafios Multissetoriais: Da Indústria ao Setor de Serviços

Os textos clássicos focam em setores industriais, mas autores como Shank e Govindarajan, bem como análises recentes da Harvard Business Review, demonstram que bancos, seguradoras, hospitais e empresas logísticas exigem abordagens diferenciadas. A mensuração de custos em UTI hospitalar, rotas de transporte, produtos bancários ou consultorias evidenciam a necessidade de criar sistemas adaptados para diferentes realidades.

Exemplo: Kaplan e Norton desenvolveram o método TDABC (Time-Driven Activity-Based Costing) para mensurar custos reais em saúde, elevando substancialmente a precisão e utilidade para gestores clínicos.

5. Critérios Avançados para Formação de Preços

5.1. Custos de Materiais e Reposição

Robert Simons destaca a importância estratégica de incorporar custos de reposição ao processo decisório, protegendo margens frente às oscilações do mercado global de insumos.

5.2. Alocação Matemática de Custos Variáveis e Fixos

A alocação dos custos deve ser fundamentada em drivers estatísticos robustos, utilizando ferramentas como análise de regressão e modelagem preditiva, métodos frequentemente recomendados pelas escolas anglo-saxônicas de contabilidade gerencial.

5.3. Incorporação de Custos Comerciais e Operacionais Indiretos

A estratégia de Porter salienta que vantagem competitiva deriva da gestão integral dos custos, remetendo à inclusão detalhada de despesas provenientes da cadeia de valor, como bonificações, fretes, comissões e custos promocionais.

6. Exemplos Práticos de Aplicação




7. Representações Gráficas Sugeridas
  • Gráfico: Evolução das margens brutas versus custos de reposição.


Fluxograma: Aplicação do método TDABC 

Detalhamento de cada grupo

Matérias-primas a custo de reposição (35%)

  • Inclui:
    Compra de insumos e componentes básicos do produto, considerando o valor atualizado de reposição (preços atuais do mercado, inflação, reajustes de fornecedores).
    Custos de embalagem e materiais auxiliares.
    Custos com transporte de matérias-primas até a fábrica (se diretamente imputáveis).

  • Exemplo prático:
    Em uma fábrica de alimentos, farinha, açúcar, óleos e embalagens com o preço que seria pago hoje para repor estoque.


Mão de obra direta e gastos gerais de fabricação (25%)

  • Inclui:
    Salários, encargos sociais e benefícios da equipe que atua diretamente na produção/serviço.
    Gastos gerais de fabricação (energia elétrica, manutenção de máquinas, ferramentas, EPI's, água e outros custos compartilhados da operação).
    Custos de inspeção e controle de qualidade dentro da linha de produção.

  • Exemplo prático:
    Para produção industrial: salário dos operadores, supervisores de produção, manutenção das máquinas, limpeza da área fabril.


Serviços específicos utilizados no produto (20%)

  • Inclui:
    Serviços técnicos ou especializados contratados para agregar valor ao produto (ex.: consultoria técnica, certificações, laboratórios de análise, design industrial, transporte especial do produto).
    Terceirização de partes do processo produtivo (ex.: impressão, pintura, usinagem especializada, embalagem terceirizada).
    Licenças e royalties diretamente ligados ao produto.

  • Exemplo prático:
    Em uma indústria de cosméticos: contratação de laboratório para testar formulações, design de embalagem feito por empresa externa, frete especial para produtos sensíveis.


Custos comerciais (15%)

  • Inclui:
    Comissões de vendedores e representantes.
    Despesas com publicidade, promoções, bonificações, eventos e marketing voltados ao produto.
    Custos logísticos de distribuição (fretes, seguros, armazenagem não atribuída ao produto).
    Despesas administrativas de vendas (suporte ao cliente, processos comerciais, pós-venda).

  • Exemplo prático:
    Pagamento de comissão aos vendedores, campanhas de lançamento, custos de envio para diversos pontos de venda.


Análise preditiva (5%)

  • Inclui:
    Investimento em softwares, ferramentas de business intelligence, big data e projeção de cenários.
    Contratação de consultorias para análise setorial, previsão de demanda e benchmarking.
    Recursos dedicados à coleta e análise de dados históricos e tendências de mercado.

  • Exemplo prático:
    Empresa adquire software que prevê oscilações do valor de insumos, contrata estudos sobre comportamento de mercado ou desenvolve modelos matemáticos de simulação de custos futuros.

  • Diagrama comparativo: Formação de preços tradicional x com inclusão de custos comerciais indiretos.

8. Conclusão

A gestão de preços contemporânea deve ir além dos modelos clássicos, adotando sistemas integrados, adaptáveis e suportados por metodologias robustas como ABC/ABM, Target Costing e Kaizen. Referências como Porter, Kaplan e Horngren destacam que as novas dinâmicas empresariais, sobretudo em serviços, desafiam gestores a construir modelos dinâmicos, orientados por dados reais e focados na geração de valor. A interdisciplinaridade entre contabilidade, engenharia de produção e analytics desponta como o novo paradigma para pesquisa e prática em custos e precificação. Promover acurácia, adaptabilidade e visão sistêmica é, atualmente, o caminho para a competitividade e longevidade organizacional.

9. Bibliografia Detalhada

  • Kaplan, R. S.; Cooper, R. (1998). Cost & Effect: Using Integrated Cost Systems to Drive Profitability and Performance. Harvard Business School Press.

  • Kaplan, R. S.; Anderson, S.R. (2007). Time-Driven Activity-Based Costing: A Simpler and More Powerful Path to Higher Profits. Harvard Business School Press.

  • Horngren, C. T.; Datar, S.M.; Rajan, M.V. (2012). Cost Accounting: A Managerial Emphasis. Pearson.

  • Porter, M. E. (1985). Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance. Free Press.

  • Shank, J. K.; Govindarajan, V. (1993). Strategic Cost Management: The New Tool for Competitive Advantage. Free Press.

  • Simons, R. (2000). Performance Measurement & Control Systems for Implementing Strategy – Text & Cases. Prentice Hall.

  • Norton, D.P.; Kaplan, R.S. (1996). The Balanced Scorecard: Translating Strategy into Action. Harvard Business School Press.

  • Harvard Business Review. Diversos artigos sobre precificação, custos estratégicos e criação de valor publicados entre 2000 e 2025.

  • Sloan Management Review. Artigos sobre inovação e tendências em sistemas de custos.

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