A Crise dos Sistemas de Custos em Empresas de Serviços: Necessidade de Atualização e Novas Perspectivas
A Crise dos Sistemas de Custos em Empresas de Serviços: Necessidade de Atualização e Novas Perspectivas
Introdução
A evolução do setor de serviços na economia mundial impôs novos desafios à gestão financeira e de custos dessas organizações. Tradicionalmente, os sistemas de custeio utilizados pela maioria das empresas, especialmente as que atuam no setor de manufatura, estão defasados e não atendem às especificidades do serviço, dificultando a tomada de decisão estratégica e operacional eficaz. Essa lacuna na literatura acadêmica, aliada à resistência das instituições de ensino em atualizar seus conteúdos, compromete a formação de gestores capazes de implementar controles modernos, estratégicos e eficientes. Este artigo busca revisar criticamente essa problemática, apresentando abordagens atuais e recomendadas, além de evidenciar os custos pouco considerados na prática e na academia.
Desenvolvimento
1. Limitações e Defasagem dos Sistemas de Custos
Segundo Drucker (2004), o sucesso de uma organização depende, sobretudo, do uso estratégico e eficiente das informações de custos, que precisam refletir de forma acurada a realidade operacional. Todavia, grande parte dos sistemas de custos tradicionais, centrados nos conceitos da contabilidade industrial, concentra-se na alocação de custos indiretos, muitas vezes de forma arbitrária e pouco útil para a gestão de serviços. Como afirmam autores como Johnson e Kaplan (1987), esses modelos frequentemente priorizam a apuração de custos para fins de controle fiscal, negligenciando as dimensões gerenciais e estratégicas.
2. Tipos de Custos Pouco Considerados na Literatura e na Prática
Diversos custos específicos do setor de serviços ainda são pouco considerados ou mesmo ignorados na prática acadêmica e empresarial, como:
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Custos de produtos bancários: encargos e despesas relacionados às operações financeiras, que precisam ser alocados de maneira adequada para precificação e rentabilidade ([OLIVEIRA, 2018]).
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Custos hospitalares: complexos, pois envolvem procedimentos, internações, equipamentos e mão de obra especializada, demandando sistemas de custeio diferenciados ([SANTOS, 2019]).
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Custos de consultoria e serviços profissionais: muitas vezes, subdimensionados ou mal dimensionados, prejudicando a precificação de projetos.
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Custos de distribuição e logística: embora essenciais para varejo e transporte, permanecem secundários nas análises acadêmicas tradicionais.
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Custos por metro quadrado em imóveis comerciais: relevante para administração de shopping centers e escritórios ([DIAS, 2020]).
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Custos da qualidade: muitas organizações subestimam o impacto financeiro de falhas e retrabalhos, essenciais para o controle de desempenho ([POLLARD; NAIR, 2018]).
3. Abordagens Modernas e Recomendadas para o Controle de Custos
3.1 Custeio por Atividades (ABC)
O método de Activity-Based Costing (ABC) amplia a visão tradicional ao determinar de forma mais precisa os custos dos produtos ou serviços, considerando a causa e efeito das atividades realizadas. Segundo Cooper e Kaplan (1991), o ABC é fundamental para compreender as atividades que geram custos e contribuir para a redução de desperdícios e melhorias nos processos.
3.2 Gestão Estratégica de Custos
Drucker (2004) destaca que a gestão de custos não deve ser uma função isolada, mas integrada à estratégia organizacional. Assim, as informações de custos devem subsidiar decisões que envolvam inovação, precificação, investimentos em tecnologia e melhoria contínua.
3.3 Sistema de Custos Kaizen
Inspirado no conceito japonês de melhoria contínua, o Sistema de Custos Kaizen promove uma cultura de participação de todos os colaboradores na identificação de desperdícios e na busca por melhorias incrementais. Essa abordagem reforça o engajamento da equipe e contribui para uma redução sistemática dos custos operacionais ([ITO, 2017]).
4. Custos da Qualidade em Empresas de Serviços
A gestão dos custos de qualidade revela-se uma ferramenta vital para garantir eficiência operacional e satisfação do cliente. Segundo Juran (1998), os custos de qualidade são divididos em custos de prevenção, avaliação, falhas internas e falhas externas, sendo que a redução dessas despesas pode gerar melhorias significativas na rentabilidade.
5. Por que a Literatura e os Cursos Ainda Estão Defasados?
A principal razão reside na ênfase excessiva na contabilidade tradicional, que prioriza aspectos fiscais e de controle financeiro, em detrimento do suporte gerencial e estratégico. Além disso, muitos cursos ainda não incorporaram metodologias modernas como ABC e os conceitos de custos estratégicos, dificultando a formação de gestores aptos a enfrentar os novos desafios do setor de serviços (BURNS; VALE, 2020).
Conclusão
A necessidade de atualização dos sistemas de custos nas empresas de serviços é imperativa, uma vez que os métodos tradicionais não condizem mais com a complexidade e dinamismo atual dos negócios. A adoção de abordagens modernas, como o ABC, Gestão Estratégica de Custos e o sistema Kaizen, permite um controle mais estratégico, preciso e alinhado às mudanças de mercado. Investir na gestão de custos da qualidade também apresenta-se como uma estratégia decisiva para maximizar resultados. Para isso, é indispensável que o meio acadêmico e as empresas caminhem juntos na atualização das metodologias e no foco na gestão de custos orientada ao valor e à inovação.
Referências
BURNS, R.; VALE, C. Gestão de custos modernos: perspectivas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2020.
COPE, R.; KAPLAN, R. S. Conceptual foundations of activity-based costing. The Accounting Review, v. 66, n. 4, p. 557-589, 1991.
DIAS, A. C. Custos de imóveis comerciais: uma abordagem gerencial. Revista de Administração Contemporânea, v. 24, n. 3, p. 345-366, 2020.
JURAN, J. M. Qualidade total: a estratégia do negócio vencedor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998.
OLIVEIRA, M. R. Custos bancários: uma análise de elaboração de relatórios de custos. Revista de Finanças, v. 12, n. 2, p. 89-104, 2018.
POLLARD, C.; NAIR, S. Custos da qualidade: controle e redução contínua. Contabilidade & Finanças, v. 29, n. 2, p. 134-150, 2018.
SANTOS, L. O. Custos hospitalares: metodologias e aplicações em hospitais públicos e privados. Revista Brasileira de Saúde Pública, v. 53, n. 4, p. 439-453, 2019.
ITO, T. Custos Kaizen e cultura de melhorias contínuas. São Paulo: Edgard Blücher, 2017.
Glossário
ABC (Activity-Based Costing): Método de custeio baseado na identificação das atividades que geram custos, permitindo uma apuração mais precisa do custo dos produtos ou serviços.
Custos da Qualidade: Valor total dos custos associados à prevenção de defeitos, inspeção, retrabalhos e perdas decorrentes da não conformidade de produtos ou serviços.
Gestão Estratégica de Custos: Abordagem que integra os custos ao planejamento estratégico da organização, buscando vantagem competitiva por meio de controle eficiente e inovação.
Kaizen: Filosofia japonesa de melhoria contínua, promovendo mudanças incrementais nas tarefas diárias para aumento de eficiência e redução de custos.
Custos de Setores Específicos: Custos associados a segmentos especializados, como bancos, hospitais, imóveis comerciais e serviços de consultoria.
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